Teach like a champion (Ensine como um campeão) ou
Aula nota 10 (no Brasil)
Doug Lemov
Editado por Jossey-Bass
ISBN 978 0 470 55047 2
Esta obra oferece inúmeras técnicas para aumentar a efetividade de professores em sala de aula. Estas aparentam ser simples ou já conhecidas mas a eficácia do conjunto é alta. Ao meu ver é uma leitura imprescindível para professores em formação ou mesmo para os já experientes. Nesta resenha descrevo as técnicas que me parecem mais interessantes e que devo aplicar na minha prática docente.
Curiosamente, obras deste tipo não são normalmente abordadas em cursos de formação de professores onde as leituras predominantemente envolvem temas de psicologia da educação, política, direito e filosofia. Certamente é de muita valia estudar as diversas correntes da psicologia cognitiva, incluindo grandes mestres como Piaget ou Vigotsky, e tudo o mais. No entanto, eu acredito que o domínio das técnicas descritas nesta resenha pode ser ainda mais útil para um professor em início de carreira, que de repente se vê em frente de dezenas de adolescentes mau comportados ou com dificuldades de aprendizagem e não sabe o que fazer.
A compilação destas técnicas envolveu a observação de aulas de professores excelentes em diversas cidades dos Estados Unidos. Estas são atualmente utilizadas por milhares de professores por todo o mundo. Encontram-se vídeos no youtube ilustrando o sucesso do uso destas técnicas por professores nos Estados Unidos.
Algumas das técnicas servem, por exemplo, para ganhar tempo na sala de aula melhorando as rotinas e outros processos. Tempo, segundo o autor, é a mais importante “commodity” na sala de aula. Não pode ser desperdiçado de maneira alguma. Iniciarei a seguir a descrição das técnicas.
Técnica NO OPT OUT
Esta técnica é utilizada em sessões de perguntas e respostas envolvendo professor e alunos.
O professor pode fazer a pergunta e selecionar um aluno para dar a resposta, entre aqueles que se oferecem levantando a mão. Alternativamente, o professor pode selecionar um aluno que não se oferece para obrigá-lo a participar. No entanto, o aluno pode tentar escapar da interação simplesmente respondendo que não sabe (e possivelmente nem está interessado). O professor então dirige a pergunta a outros alunos até que eventualmente alguém fornece a resposta correta. Aqui é que NO OPT OUT entra em cena: após a pergunta ser respondida o professor se dirige novamente ao aluno que evadiu a questão dizendo simplesmente que não sabe e verifica se agora ele sabe! Ou seja, o professor pede que o aluno forneça a resposta agora que ela já foi revelada pelo colega. Desta forma o aluno percebe que não vai conseguir evadir-se da sessão de perguntas e respostas e portanto pensará em eventualmente tentar responder alguma coisa e se interessar pelas discussões.
Técnica RIGHT IS RIGHT
Esta técnica é utilizada em sessões de perguntas e respostas envolvendo professor e alunos. A técnica RIGHT IS RIGHT, ou certo é certo, consiste de não aceitar meias respostas. O professor deve insistir na questão até que sua pergunta seja devidamente respondida. Às vezes alunos dão meias respostas ou citam algo que decoraram e que está relacionado com a pergunta, mas sem entender devidamente o assunto. Por exemplo o professor pergunta o que é volume e o aluno responde com a fórmula matemática para volume do cubo, por exemplo. O professor deve então insistir na pergunta de o que é volume. A pergunta não era qual é a fórmula do volume do cubo. Naturalmente, o professor deve admitir ao aluno que a resposta foi pertinente, e portanto bem vinda, embora não tenha endereçado o âmago da questão. O professor pode dizer algo do tipo: “Nós estamos quase lá”, ou “eu gostei do que você fez! Podemos ir até o fim do caminho?”.
Alunos muitas vezes erram questões em provas por responder uma questão que não é a da prova, ou seja, não é o que se está perguntando.
Técnica WITHOUT APOLOGY
A técnica WITHOUT APOLOGY, ou sem desculpas, é sobre a posição do professor com relação ao conteúdo a ser ensinado. Qualquer conteúdo pode ser ensinado de uma maneira interessante, seja lá o que for. No entanto existem conteúdos que tem fama de serem muito chatos, como por exemplo química orgânica ou divisão de polinômios. O que não pode acontecer é o próprio professor afirmar que certo conteúdo é chato, pois isso irá fazer com que todos o achem chato, inclusive aqueles que talvez pudessem se interessar. Há professores que se desculpam por ter que ensinar algo tão chato e transferem a culpa para outro, talvez um administrador, burocrata ou político. Por isso o nome da técnica: sem desculpas.
Outra coisa que deve ser evitada é afirmar que certo conteúdo é difícil. Os alunos que ouvirem isso certamente passarão a achar o conteúdo difícil, mesmo aqueles que não achavam.
Técnica CIRCULATE
A técnica CIRCULATE, ou circule, destaca a importância do professor circular por toda a sala e portanto não limitar-se a ficar na parte anterior da mesma. Dessa forma ele mostra que o seu espaço de influência é a sala inteira e não apenas a área próxima à lousa onde a maioria dos professores costuma ficar a maior parte do tempo.
O professor deve mover-se por toda a sala, de maneira imprevisível. Isto lhe trará grandes benefícios. Por exemplo ele poderá ver se os alunos estão trabalhando ou não, e se estão entendo o conteúdo (fazendo exercícios corretamente). Se estão usando o telefone celular para calcular e pesquisar ou para ver fofocas em redes sociais.
Além do mais, o professor poderá reprimir maus comportamentos aproximando-se do indivíduo que perturba e passar um recado direto a curta distância, evitando portanto que todos na sala percebam o problema e se distraiam do trabalho. Se o professor não circula com frequência, ele desviará a atenção d aclasse quando aproximar-se do elemento perturbador e ação será pouco efetiva.
Técnica WAIT TIME
A técnica WAIT TIME, ou espere um pouco, é para ser usada em sessões de perguntas e respostas. Basicamente, sugere que o professor dê tempo aos alunos para poderem responder a perguntas.
Muita gente acha que as perguntas devem ser respondidas prontamente e imediatamente. Isso parece normal porque é o que se vê na TV e tal. Políticos, pessoas influentes, sempre se apresentam com respostas prontas para tudo.
É melhor que um aluno pense um pouco antes de responder, porque se ele tiver pressa é mais fácil sair um chute ou qualquer comentário precipitado. Deve-se esperar para que se possa ouvir algo com reflexão e qualidade..
Técnica DO NOW
A técnica DO NOW integra o conjunto das que evita a perda de tempo na sala de aula, afinal o tempo é a mais valiosa “commodity” desta.
Esta técnica consiste de especificar uma tarefa para ser realizada assim que o aluno entrar na sala de aula. Estará escrita na lousa. O aluno saberá que deve iniciar a tarefa imediatamente e assim se evitará que esteja parado sem fazer nada por alguns minutos ou, ainda pior, perturbando. Ele sempre terá o que fazer na sua sala de aula.
É importante notar que o tempo perdido no início e final de aulas pode chegar a 5 ou 10 min, onde os alunos estão movendo carteiras, falando, enrolando para sentar. Uma perda de 10 min em cada aula é equivalente a mais de 1 mês em termos do ano letivo.
Técnica TIGHT TRANSITION
A técnica TIGHT TRANSITIONS, ou transições justas, é sobre fazer transições eficientes entre uma atividade e outra.
Sabemos que uma aula deve ter pelo menos 3 atividades diferentes, todas focadas nos mesmos objetivos (em contraste com a aula tradicional em que o professor fala o tempo todo e portanto existe apenas uma atividade).
Para poder usufruir dos benefícios de uma aula com múltiplas atividades, é fundamental fazer transições rápidas, sem perda de produtividade. Isto não é fácil porque certos alunos usam o momento das transições para começar a bagunça.
Técnica PRECISE PRAISE
A técnica PRECISE PRAISE, ou elogio preciso, é extremamente importante.
Muitos autores apontam que o uso de elogios na sala de aula deve ser praticado pelos professores para incentivar os alunos. Mas cuidado. O mal uso do elogio pode causar problemas invés de trazer benefícios. Esta técnica é sobre a maneira correta de usar o elogio para influenciar de maneira positiva os seus alunos.
Se o elogio é usado em excesso, ele perde o sentido, se torna um elogio barato pois qualquer coisa é elogiada. O elogio deve ser usado quando o aluno fizer algo excepcional: “excelente João!”, “Maria você fez um grande trabalho!”. Quando se tratar de tarefas ordinárias, o professor deve admitir a execução da mesma, mas sem elogiar: “Obrigado por trabalhar seriamente!”
Às vezes a situação chega ao ponto ridículo de um aluno é elogiado por trazer o caderno, por exemplo. Neste caso ele não fez mais do que a obrigação e não merece ser elogiado por isso.
O uso correto do elogio exige cuidado mas seus benefícios são enormes.
Em conclusão, o uso das técnicas acima e mais as dezenas de outras descritas no livro pode aumentar imensamente a eficiência das aulas e também o prazer de trabalhar do professor.