Resenhas de livros na área de educação

Children's ideas in science (As ideias das crianças sobre as ciências)

Editado por Rosalind Driver, Edith Guesne e Andrée Tiberghien

Open University Press - US

ISBN 0 335 15040 3


Rosalind Driver é autora de diversos livros na área de educação, muitos deles sendo adotados em cursos de graduação e pós na área de ensino de ciências na Europa e nos Estados Unidos, assim como nos cursos de treinamento de professores de ciências. O Institute of Physics inglês (IOP) oferece bolsas de estudo em homenagem à memória da autora, que continua sendo muito estudada e pesquisada.

Nesta obra ela explora as ideias científicas preexistentes na cabeça das crianças, quer dizer, antes delas serem ser expostas à escola. As crianças aprendem diariamente, muito rápido, as mais variadas coisas dentro ou fora da escola. Elas certamente pensam sobre o mundo, a natureza, os objetos, etc... Portanto elas já tem uma visão de mundo própria.

Chegando à escola, as crianças não são uma tábua em branco (tabula rasa) esperando o professor escrever nela. Não são um saco para ser enchido de cultura. Elas apresentam suas versões dos fatos que serão provavelmente conflitantes com aquelas a serem introduzidas nas aulas de ciência. Para que o processo educativo seja eficiente é necessário que o professor tenha conhecimento das concepções alternativas ou concepções equivocadas (misconceptions) para ter uma chance de convencer a criança a largar as dela pelas da escola. Certamente esse trabalho de desconstrução da concepção de mundo da criança deve ser efetuado antes da construção das concepções científicas atuais, ensinadas em cursos de biologia, química e física.

Essas concepções de mundo alternativas dificilmente se dissipam por completo. Muitas vezes os alunos aprendem a concepção científica ensinada na escola mas no fundo ainda acreditam mais na sua própria. Eles aprendem a concepção escolar por serem inteligentes e saberem que precisam tirar nota na prova, mas no fundo não estão convencidos.

A maneira efetiva de fazer o aluno largar suas concepções (quando estão erradas, claro) é provocar o conflito cognitivo. O aluno é exposto a um experimento onde suas concepções são “jogadas no lixo”. Por exemplo, uma concepção errada normalmente presente nas crianças é a de que tudo que se queima aparentemente perde massa, pois é isso que observam em objetos comumente queimados no seu entorno (na verdade não se perde massa mas parte da massa é emitida na forma de gás e fumaça), como um pedaço de papel por exemplo. Ao queimar-se um pedaço de "bombril" (feito de ferro) na frente da criança, pode-se comparar o peso do mesmo antes e depois da queima e verificar que o peso aumentou! Presenciando este conflito, o estudante espontaneamente aceita a concepção oferecida pelo professor.

Nada melhor que saber um pouco sobre as ideias das crianças sobre ciências antes de planejar um curso, e esse livro nos traz essas ideias em áreas centrais da ciência, como eletricidade, luz e calor, entre outras.

O capítulo sobre eletricidade, por exemplo, apresenta novos e grandes desafios para as crianças. Primeiramente, devemos dizer que mesmo entre os adultos entre nós, são poucos os que entendem algo concreto sobre eletricidade. Todos sabem que a eletricidade faz nossas vidas muito mais confortáveis e que se você levar um choque elétrico ele pode ser fatal. Algumas pessoas sabem que a produção de eletricidade está poluindo e destruindo o planeta. Poucos dominam os conceitos de corrente, voltagem e energia elétrica que são todos confundidos um com o outro. Ou os conceitos de correntes contínuas ou alternadas. Se é difícil para adultos provavelmente o será para crianças também.



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