Resenhas de livros na área de educação

Getting science: The teacher’s guide to exciting and painless primary school science (o guia do professor para uma ciência mais excitante e indolor no ensino fundamental)

Brian Clegg

Editora: Routledge

ISBN: 0 203 96185


Brian Clegg é um escritor inglês que já publicou diversos livros de popularização das ciências. Nesta obra, que é educacional e não de popularização da ciência, ele oferece sugestões para que a ciência torne-se mais atrativa para professores e alunos do ensino fundamental.

O problema principal enfrentado pelos professores de ciências é que os temas são vistos como, chatos, afastados da nossa realidade cotidiana, difíceis e até mesmo inúteis.

O uso de fatos interessantes excitantes pode ser usado para atrair interesse. É necessário tornar a ciência interessante e divertida, caso contrário um aprendizado com entendimento difícilmente poderá acontecer. Isto tudo parece óbvio mas por que é tão difícil fazê-lo? Brian Clegg nos oferece diversas ideias e estratégias para ajudar na jornada até este objetivo.

A estratégia de fornecer fatos interessantes e excitantes envolvendo por exemplo foguetes, viagens espaciais e até mesmo medicina. Fatos que surpreendam. Como um exemplo podemos citar a velocidade da luz e relacioná-la com a velocidade das asas de um beija-flor que se movem extremamente rápido, com uma frequência de 4200 movimentos por minuto. Nesta velocidade elas quase se tornam invisíveis para nós. No intervalo de tempo entre a asa subir e descer a luz atravessa todo o Oceano Atlântico. Este é um fato bastante interessante e que deve despertar curiosidade, em pelo menos parte dos estudantes. É também interessante porque faz um cruzamento entre a física e a biologia. Além disso o fato de que uma velocidade tão alta já tenha sido medida e calculada há 300 anos atrás é incrível! Mas um aluno contestador ainda assim pode dizer que é inútil saber qual a velocidade da luz porque para os fenômenos cotidianos a velocidade da luz pode ser considerada como infinita, indo de um ponto a outro imediatamente. Pode-se esclarecer o fato explicando que a velocidade da luz é usada na definição de metro por exemplo. Um metro equivale à distância percorrida pela luz em uma fração de segundo que é: 1/299752458. Outro fato inútil? Não! Imagine que um dia possamos estabelecer contato com uma civilização em um planeta distante, tão distante que nunca poderemos visitar um ao outro, mas é possível a comunicação por ondas de rádio ou coisa parecida. Se estes extraterrestres nos perguntam qual a altura média de um humano, como poderíamos expressar isso ? Eles não sabem o que é 1 metro, pois isso foi inventado por nós. Como lhes explicamos o que é 1 metro? Por exemplo, usando a definição acima que envolve a velocidade da luz! Isto ilustra o fato de que a linguagem da ciência é universal e é a única que pode ser usada numa comunicação neste nível (a definição e segundo pode ser dada usando o conceito de relógio atômico, onde o segundo é relacionado ao tempo de transições eletrônicas).

Existem muitos outros fatos super interessantes que podem ser usados com este propósito. O autor fornece muitos mais. Outra estratégia sugerida é olhar sempre para as grandes ideias para não perder-se na multitude de pequenos detalhes e em áreas muito específicas. A maior parte do trabalho científico é voltado a áreas muito especializadas e o perigo é que essa maneira de trabalhar chega também às escolas e acaba confundindo os alunos. O relacionamento constante com as grandes ideias é necessário para uma aprendizagem com entendimento e para o excitamento dos alunos com os temas. Outra estratégia é fazer com que os alunos percebam que a ciência está à nossa volta e envolvida em tudo que vemos e fazemos. É difícil para eles aprender algo que não tenha relevância na vida diária, simplesmente porque são obrigados a tentar aprender.

Finalmente aborda-se o tema das experiências. A grande vantagem que o professor de ciências possui, com relação à dificuldade de despertar o interesse dos alunos, é poder fazer experiências e demonstrações. As crianças adoram fazer coisas e sujar as mãos (o que é óbvio) e adorariam participar em experiências, especialmente se houver resultados excitantes. Mais uma vez, não se pode querer que estudantes pensem e trabalhem como cientistas profissionais, cujo trabalho é árduo e pode ser monótono por grande períodos de tempo, até que finalmente seja feita uma descoberta excitante. Quer dizer, não podemos mandar os alunos realizarem muitas medições repetidas e anotações de números sem fim como fazem os cientistas. Os alunos devem estar envolvidos em experimentos interessantes, que mostrem algo surpreendente rapidamente! O livro oferece diversas sugestões.

Brian Clegg oferece umas série de requisitos para que o experimento didático tenha sucesso. Algum destes parecem óbvios. Como este: alguma coisa deve acontecer. Quem já viveu a experiência de um laboratório de química escolar sabe que esse não é sempre o caso. “Alguma coisa” se refere a algo excitante, que chame a atenção, que seja certamente fora do ordinário, em contraste com o grande número de experimentos que são monótonos e consistem basicamente de montes de anotações de medidas e números. Outro requisito é que os estudantes possam por a mão na massa. Uma demonstração, feita apenas pelo professor, pode ser bastante interessante. Mas nada como os próprios alunos fazendo acontecer. Além de ser interessante, o ideal seria o experimento causar uma surpresa, algo inesperado de acordo com as ideias científicas do aluno, que podem ser equivocadas. Este tipo de experimento pode ajudar na aceitação dos conceitos científicos universalmente aceitos (em detrimento daqueles inventados pela própria criança).

Em conclusão, não podemos permitir que o estudo de ciência seja algo chato e indesejável. É possível torná-lo divertido e produtivo e com as estratégias e ideias aqui sugeridas por Brian Clegg se pode fazer bastante progresso neste sentido.


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