Learning to teach science in the secondary school, 3rd edition (Aprendendo a ensinar ciências no ensino médio, terceira edição)
Editora: Jenny Frost
Publicado por: Routledge
ISBN: 0 415 55019 X
A editora do livro, Jenny Frost, foi professora titular no Departamento de Educação em Ciências do Instituto de Educação da Universidade de Londres, no Reino Unido. Neste livro ela oferece um guia para a transição de carreira de um cientista graduado para um professor em treinamento, abordando todos os temas envolvidos no processo. Esta resenha estará focada nos capítulos que tratam sobre a formação humana e didática do professor de ciências, deixando de lado aqueles que descrevem aspectos técnicos e burocráticos internos das escolas inglesas, assim como aspectos nacionais como o currículo (National Curriculum) e etapas de progressão na carreira .
Inicialmente a obra discute as virtudes necessárias para um bom professor (ou professora - no restante do texto escreverei apenas professor - esta dificuldade não existe no texto original pois teacher significa professor ou professora) de ciências (embora algumas sejam mais gerais e se apliquem a outros professores também), compiladas através de pequisas com alunos, e recomenda uma autoanálise para se saber quais dessas o professor em treinamento já possui e quais precisam ser desenvolvidas ou melhoradas, para que se possa elaborar um planejamento de desenvolvimento profissional com os objetivos focados em áreas que necessitem atenção.
Primeiramente o professor deve ter amplo conhecimento sobre a sua disciplina e ser entusiástico, de modo a contagiar o seu amor pelo conhecimento e pela natureza. Isto é mais difícil para professores sem amplo conhecimento do tema que tentam ensinar, como por exemplo aquele que é formado em biologia e ensina ciências, e portanto deve ensinar também química e física (as outras duas disciplinas que integram as ciências) . Sem domínio da química e da física fica difícil ficar muito excitado sobre os temas (e consequentemente oferecer explicações lógicas, claras e interessantes) , ou mesmo incentivar os alunos a fazerem perguntas... É um grande erro subestimar a inteligencia das crianças e achar que porque são crianças pode se ensinar uma física aguada para “enrolar” e ir mantendo o emprego. Este professores precisam um plano de desenvolvimento de carreira que envolva a aquisição do conhecimento faltante, entre outras coisas.
Entre os aspectos humanísticos, podemos dizer que o professor deve ser bastante acessível, ou seja, que os alunos se sintam à vontade para perguntar e até mesmo conversar sobre assuntos relevantes do currículo. Ele deve também tratar os alunos como indivíduos, conhecendo suas habilidades particulares e seus anseios, o que facilitará muito sua comunicação. Ele deve também ser muito paciente e, de preferência, usar humor para divertir um pouco o grupo de vez em quando, “quebrando o gelo”.
Em seguida a obra aborda ideias específicas para o ensino de cada uma das ciências, incluindo geologia (que no Brasil é ensinada sob a disciplina Geografia), oferecendo sugestões de como ensinar diversos tópicos como DNA em biologia ou eletricidade em física. O professor deve estar preparado também para ensinar temas que podem ser mais complicados como a vida sexual e o sistema reprodutivo ou mesmo a teoria da evolução, que pode enfrentar protestos de alunos religiosos.
O professor deve também preparar-se em outros aspectos específicos do ensino de ciências, como o aspecto linguístico: aprender ciências é como aprender uma língua estrangeira, tamanho o número de termos técnicos a serem aprendidos. Chega ao extremo de que palavras que o aluno já usa normalmente devem mudar de significado, como ocorre com peso, massa e força, por exemplo. É importante focar na origem das palavras e ensinar prefixos e sufixos científicos para que alunos possam entender e lembrar melhor esse monte de novas palavras. Por exemplo, ensinar que hidro quer dizer água , termo- calor e foto luz-luz.
O uso de tencologia de informação é talvez mais necessário nas ciências e matemática do que em outras disciplinas porque existe a necessidade de processar dados calculados ou obtidos no laboratório, interpretá-los, traçar gráficos, etc. Simulações de computador são muito úteis para ilustrar fenômenos microscópicos complicados como gases ou qualquer outro fenômeno físico. Finalmente, o uso de um projetor ligado ao computador (data-show) durantes as aulas é essencial para as aulas do século XXI, para que se possam apresentar imagens de qualidade , vídeos e as simulações supracitadas. O professor em treinamento deve incluir em seu plano de desenvolvimento de carreira temas de informática que vão além do básico pois esta ferramenta está cada vez mais desenvolvida e fazendo parte das nossas vidas.
Uma das primeiras atividades do professor em treinamento é observar aulas de professores experientes, para que se possa ganhar alguma vivência na realidade da sala de aula e ver vários desafios sendo endereçados. São destacados alguns pontos sobre os quais uma atenção especial deve ser dispensada e vou dar alguns exemplos a seguir. Inicialmente, após a entrada do professor na classe, é crucial a habilidade de obter silêncio e calma e consequentemente ganhar a atenção de todos na classe (todos quer dizer todos mesmo, nem um único aluno pode permanecer distraído). Em seguida ele deve introduzir o tópico do dia, explicar o porque dele ser importante e então tentar descobrir o que os alunos sabem a este respeito, para construir conhecimento encima do conhecimento já existe. Após estas considerações iniciais, o professor deve dar explicações muito claras sobre o que os alunos devem fazer, ou seja, que tarefas vão executar para alcançar os objetivos descritos.
Agora, passando para a parte central da aula, o professor em treinamento tem muitas coisas para observar e deve dividí-las em 2 categorias: o que os alunos estão fazendo e o que o professor está fazendo. Se os alunos estão trabalhando individualmente, ou em grupo, por exemplo resolvendo uma lista de exercícios, o professor possivelmente estará circulando entre eles para checar aprendizagem e entendimento tanto da tarefa pedida como do conhecimento recém introduzido, e também para esclarecer eventuais dúvidas e manter todos trabalhando, tentando também extinguir eventuais focos de mal-comportamento. Quando se trata de uma atividade prática do tipo experimento de ciências há muito mais para observar, por exemplo a logística do processo. Como é que todos os materiais (vidrarias, reagentes químicos, termômetros,etc.) são distribuídos de forma organizada no menor espaço de tempo possível. E, talvez ainda mais difícil, como estes materiais são retornados e se possível devidamente organizados e limpos (em escolas menores não há a figura do técnico de laboratório e os alunos normalmente lavam suas vidrarias, o que pode causar o espirramento de produtos químicos - ácidos possivelmente - sobre os mesmos). Óculos de segurança devem ser usados na lavagem, que é um momento crítico da aula prática e o professor deve checar isso constantemente.
Um bom professor normalmente oferece 3 ou mais atividades diferentes em uma mesma aula, todas focadas no mesmo objetivo. É importante observar como o professor finaliza um atividade e inicia a seguinte de forma a haver o mínimo de desordem e perda de tempo. Finalmente, é importante observar como o professor experiente finaliza a aula, no momento certo, com comandos assertivos. Neste momento ele irá fazer um rápido sumário dos objetivos da aula , possivelmente dar a lição de casa e finalizar com um tom positivo e no momento exato.
Finalmente é abordada a questão da avaliação, seus tipos e objetivos. Primeiramente usa-se a avaliação formativa para guiar o planejamento do curso e verificar se os objetivos estão sendo alcançados durante o decorrer do mesmo e mais para a frente prepara os alunos para a avaliação somativa, aquela que busca obter notas em forma de números, do tipo vestibular.
Em conclusão, está obra aborda diversos temas que serão enfrentados por um professor em treinamento, ou iniciante, e oferece sugestões para a elaboração de um plano de desenvolvimento pessoal objetivando alcançar o padrão de um professor eficaz e com boa relação com seus alunos e o resto da escola e da comunidade.