A fraude em vinho é comum desde que este produto foi inventado, e consiste basicamente da adulteração do produto com conservantes, corantes e ingredientes baratos em geral (às vezes venenosos). Mas hoje em dia a fraude mais lucrativa é aquela que envolve os vinhos para investimentos como por exemplo ,os vinhos supostamente pertencentes a Thomas Jefferson que foram vendidos por cerca de US$157 000 cada garrafa.
Conforme exposto no documentário Sour Grapes (2016), que pode ser visto no Netflix, falsificadores se atentam a inúmeros detalhes como o material da rolha, do papel do rótulo, etc... Mas agora os investigadores dispõe de uma ferramenta da física nuclear para identificar fraude : a detecção do isótopo radioativo césio-137. Sim, o mesmo que colocou Goiânia no mapa mundial dos desastres radioativos.
Este é um material antropogênico (man-made) que é produzido abundantemente na quebra do núcleo do urânio (nuclear fission) que ocorre em reatores e explosões nucleares. Ele está presente em todo lugar, no ar, na água e dentro de nós. Além de abundante, ele forma sais que dissolvem na água e facilitam seu espalhamento. Sua similaridade com o potássio permite que seja absorvido por plantas e animais. Sua meia-vida é de cerca de 30 anos.
Mas há um detalhe importante: ele não existia no planeta antes de 1945, quando começaram a se explodir bombas nucleares (ou atômicas) neste planeta. Portanto um vinho de investimento, que geralmente foi produzido antes dessa data, não pode conter o césio-137!
Para fazer este teste não é necessário abrir a garrafa, pois os raios gama emitidos pelo césio-137 atravessam facilmente o vidro. A dificuldade maior é blindar o laboratório de raios gamas emitidos pelo meio ambiente e pelo sol e outras estrelas (raios cósmicos), para não confundir as medidas realizadas. Por isso o Philippe Hubert, o físico da Universidade de Bordeaux que inventou o método, trabalha sob os Alpes franceses, com quase 2 km de pedras sobre sua cabeça.
Uma técnica de física nuclear foi também utilizada pelo CENA (centro de energia nuclear na agricultura) da faculdade de agronomia da USP em Piracicaba-SP, que descobriu a presença de milho em diversas cervejas industriais brasileiras, que é um um ingrediente que não consta no rótulo. Neste caso não há ilegalidade porque a lei não obriga a empresa a listar no rótulo tudo o que está presente nas garrafas vendidas. Isto poderia ser considerado adulteração? Talvez este assunto deva interessar mais aos advogados do que aos cientistas.
A técnica consistiu da separação dos isótopos de carbono que faziam parte dos açucares, pois a fotossíntese no milho (tipo c-4) é diferente da que ocorre em 95% das plantas no planeta (tipo c-3) e absorve diferentes proporções de isótopos de carbono. A proporção do isótopo carbono-13 no milho é maior. Este é um teste parecido com o famoso datamento radioativo , essencial para arqueólogos, baseado na proporção de carbono-14. Para separar os isótopos é necessário um equipamento sofisticado , chamado espectrômetro de massa (isótopos são átomos de um mesmo elemento, mas com massas diferentes). Esta técnica é normalmente usada para detectar adulteração (adição de xarope de milho) em mel.
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