A radioatividade de um elemento diminui à medida que seus átomos vão decaindo. Alguns elementos decaem mais rápido, outros mais devagar. Para podermos quantificar o fenômeno, usamos o conceito de meia-vida e a função exponencial negativa.
É o tempo que leva para uma quantidade ser reduzida à metade do valor inicial. Ela é usada em diferentes áreas d a ciência. Por exemplo, em farmacologia a meia-vida biológica é o tempo que leva para metade de uma droga (ou qualquer substância introduzida em um organismo) ser eliminada.
No contexto da radioatividade a meia-vida é o tempo que leva para metade dos átomos em uma amostra decaírem. É importante notar que é um cálculo estatístico e portanto não podemos saber quais átomos irão decair, apenas quantos deles.
Exemplo:
Se a meia vida de uma amostra é 1 h, após 1 h restará apenas a metade da atividade radioativa. Depois de 2h, restará 1/4. Depois de 3h, 1/8. E assim por diante, de acordo com a tabela abaixo:
Número de meias vidas passadas | Fração que resta | Porcentagem que resta | |
---|---|---|---|
0 | 1⁄1 | 100.0 | |
1 | 1⁄2 | 50.0 | |
2 | 1⁄4 | 25.0 | |
3 | 1⁄8 | 12.5 | |
4 | 1⁄16 | 6.25 | |
5 | 1⁄32 | 3.125 | |
6 | 1⁄64 | 1.5625 | |
7 | 1⁄128 | 0.78125 |
Exemplo: Questão do vestibular da Santa Casa:
O radiofármaco citrato de gálio, contendo o radionuclídeo Ga-67, é utilizado em diagnóstico de processos inflamatórios e tumorais. Uma das formas de apresentação do radiofármaco é em ampolas com solução injetável de citrato de gálio. (www.ipen.br. Adaptado.)
A atividade total da solução na ampola diminui continuamente, a partir da data de calibração (tempo 0), de acordo com o gráfico. Um médico estipulou que, para determinada aplicação desse radiofármaco, a solução da ampola tem que ter atividade mínima de 92,5 MBq. Nesse caso, a ampola só poderá ser utilizada no paciente se for num prazo máximo, a partir da data de calibração, de
a) 13,3 dias. b) 6,7 dias. c) 10,0 dias. d) 16,7 dias. e) 8,0 dias.
Resolução:
A meia vida não é dada explicitamente no enunciado da questão, mas pode ser obtida do gráfico. Ela corresponde à posição P, que é 80 h, que é o tempo para a atividade cair de 740 para 370. Passada outra mia vida a atividade cai para 185 , e passada outra mais cai para 92,5, que é o valor para o qual queremos saber o tempo. Portanto a resposta é 3 meias vidas, ou seja 240 h. Isso corresponde a dez dias, portanto resposta c).
Para questões mais elaboradas é necessário o cálculo da constante de decaimento, que é o termo a nos gráfico abaixo.
Sistemas que apresentam meias-vidas decaem exponencialmente (função abaixo). Visite meu simulador de função exponencial para sentir como a curva muda de acordo com o valor do expoente (-ax). O simulador permite que selecione valores de a para plotar a curva:
Para podermos calcular a intensidade da radiação em um instante qualquer necessitamos conhecer o termo no expoente (constante de decaimento). Invés de a usaremos a letra grega lambda (λ) , que é normalmente usada neste contexto. Esta pode ser calculado a partir da meia vida, como mostrarei abaixo. Essa conta exige o conhecimento de logaritmos. Caso não entenda o cálculo, pode-se decorar a fórmula final , que é simples, e é essencial para problemas sobre radioatividade e meias vidas (exceto os mais fáceis).
Chamaremos de N a quantidade de substância. Pode significar número de átomos , massa, ou até mesmo a intensidade da radiação que, no exemplo abaixo , é medida em MBq (megabequerels). N(0) é a quantidade inicial (quando t=0) e N(t) é a quantidade em qualquer instante posterior (a ser calculada), de acordo com a fórmula I:
(I) N(t) = N(0) e-λt
A equação acima descreve qualquer processo que decai exponencialmente, inclusive o decaimento radioativo.
Chamarei a meia vida de t1/2. Dessa forma temos que:
N(t1/2) = N(0) e-λ (t 1/2)
Após t1/2 , a quantidade N é diminuída da metade:
N(t1/2) / N(0) = 1/2 = e-λ (t 1/2)
aplicando o logaritmo natural dos dois lados:
ln 1/2 = ln e-λ (t 1/2)
ln 1 - ln 2 = - λ t1/2
ln2 = λ t1/2
e finalmente obtemos a fórmula II:
(II) λ = ln 2 / t1/2
O valor de ln 2 = 0,69 deve ser informado na questão.
Exemplo 1
Questão da FUVEST sobre o reator nuclear natural (a constante de decaimento é dada) >>
Exemplo 2
A meia vida do Tc-99m (o isótopo mais usado em medicina nuclear) é de apenas 6 h. Calcule quanto tempo é preciso para que sua atividade radioativa caia a 1 % do valor inicial.
Dado ln 2 = 0,69 e ln 10 = 2,3
Resolução:
A atividade inicial é 100% e a final é 1%.
Usando a fórmula I :
N(t) = N(0) e-λt
1= 100 e-λ t
Temos ainda duas incógnitas. O λ pode ser calculado a partir da meia vida, usando fórmula II:
λ = ln 2 / t1/2
λ = 0,69 / 6 = 0,11
Portanto:
1 = 100 e-0,11 t
Sabemos que ln 100 = ln 102 = 2 ln 10 e que ln 1 = 0
-=> aplicando ln dos dois lados da equação:
ln 1 = ln 100 e-0,11 t = ln 100 - 0,11t
0 = 4,6 - 0,11 t
t = 4,6 / 0,11 = 41,8 hs
Veja que após 41,8 hs (menos de 2 dias) a atividade do TC-99m praticamente acaba. Por isso a dificuldade em transportá-lo até os hospitais rapidamente, desde sua produção em um reator de pesquisa ou ciclotron.
Exemplo 3
No caso do flúor-18, a pressa é ainda maior. Façamos o mesmo cálculo para o flúor-18, que tem meia vida de 110 min.
λ = ln 2 / t1/2 = 0,69 / 110 = 0,006
1 = 100 e-0,006 t
0 = 4,6 - 0,006 t
t = 766 min = 12,7 h
Devido a essa curtíssimo tempo para o transporte, os hospitais que possuem máquina PET costumam ter também um ciclotron médico pra produzir seus radioisótopos. Outros radioisótopos são também usados, mas todos tem a meia vida curtíssima.
Leia mais em radiofármacos>>
Exemplo 4
O césio -137 tem meia-vida de aproximadamente 30 anos. Vamos repetir o cálculo anterior. Dessa vez usarei uma planilha do Google para traçar o gráfico.
λ = ln 2 / t1/2 = 0,69 / 30 = 0,023
0 = 4,6 - 0,023 t
t = 4,6 / 0,023 = 200 anos
Este decaimento é ilustrado no gráfico abaixo. Veja que após 30 anos há uma queda pela metade, como seria esperado.
A planilha usada para fazer este gráfico é esta abaixo, que pode ser acessada aqui.
Para fazer mudanças, salve com outro nome no seu Google docs.
© Ricardo Esplugas de Oliveira, 2020